Por Valter Casarin*
Muitos devem se perguntar se devem ou não adubar as plantas de interior durante o inverno. Vários vão querer responder que não, não devemos adubar no inverno. A adubação deve ser feita durante o período de crescimento das plantas e, no inverno, nossas plantas de interior não estão em período de crescimento. É melhor esperar até que os dias fiquem mais longos na primavera para começar a fertilizar novamente.
Essas afirmações não são totalmente falsas, mas também não são inteiramente verdadeiras. Na verdade, nossas plantas domésticas não ficam completamente dormentes durante o inverno. No inverno, os ventos frios e as geadas podem causar danos reais às plantas mais sensíveis. As plantas anuais estão morrendo e muitas plantas perenes estão passando por momentos difíceis. Mesmo as espécies mais tolerantes apreciarão uma ajudinha da adubação para superar a estação fria.
Nos meses mais frios, as plantas que mantemos perto das janelas e aquelas às quais fornecemos iluminação artificial não ficam completamente adormecidas. Elas continuam com sua atividade metabólica, mesmo no inverno. Suas células não param de funcionar, apesar do ritmo mais lento. Elas continuam a produzir glicose usando a energia solar (ou as nossas lâmpadas que imitam a energia solar) e assim produzem seus alimentos. A fotossíntese continua. Mas muito simplesmente, a atividade metabólica das plantas é proporcional à iluminação que recebem. Quanto menos luz, menos fotossíntese.
É especialmente por causa desta mudança de ritmo que devemos regar menos as nossas plantas domésticas durante os meses de inverno, isso se deve aos dias menos luminosos. Como a sua atividade metabólica é lenta, as plantas consomem menos água. Pensando bem, nós também temos menos sede quando está mais fresco.
Se a planta continuar sua atividade metabólica muito lentamente, e percebermos que ela está dando sinais de crescimento, mesmo que lentamente, significa que podemos adubar nossas plantas, mas em menores proporções.
Para se manterem saudáveis e resistirem a pragas e doenças, as plantas devem ingerir um conjunto equilibrado de nutrientes através das suas raízes. Estes nutrientes ocorrem naturalmente no solo, mas para plantas com uso intensivo de energia, a aplicação de fertilizantes é uma forma simples e eficaz de estimular o crescimento.
Para compreender corretamente a nuance entre a adubação durante o período de crescimento ativo e a fertilização durante os meses de inverno, é preciso entender como funcionam os fertilizantes, em geral. Nos recipientes de fertilizantes existem 3 números, que correspondem à porcentagem de elementos primários: nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K). Cada elemento desempenha um papel diferente.
O N, P e K são os três principais macronutrientes essenciais para as plantas. Outros nutrientes são igualmente fundamentais como cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S), juntamente com os micronutrientes boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), níquel (Ni) e zinco (Zn). Esses elementos estão naturalmente presentes no solo. Mas às vezes, para as nossas plantas de interior, eles acabam e temos que renová-los.
Portanto, você deve escolher um fertilizante descrito como “completo”, o qual terá em sua composição o NPK acrescido dos demais elementos, conferindo assim a nutrição que irá garantir às suas plantas o fornecimento de nutrientes necessários.
O nitrogênio é o elemento que ajuda as plantas a crescer, desenvolver a folhagem e as partes aéreas da planta. Também contribui para a cor da folhagem. Com efeito, o nitrogênio é um componente da clorofila e, na falta deste elemento, todo o processo de fotossíntese é afetado. É recomendado um fertilizante rico em nitrogênio, por exemplo, para mudas ou plantas de interior com folhagem verde.
O fósforo contribui para o desenvolvimento das flores e o crescimento do sistema radicular. Os fertilizantes destinados à floração e ao enraizamento são ricos em fósforo. Obviamente, ao fortalecer o sistema radicular, o fósforo contribui para o crescimento da planta.
O potássio tem um papel a desempenhar na resistência geral das plantas ao frio, à seca, aos insetos e às doenças. É como um escudo para a planta. Também participa do desenvolvimento e amadurecimento dos frutos. O potássio fortalece a estrutura celular e as raízes das plantas. Isso confere, portanto, plantas mais resistentes a baixas temperaturas e estão mais bem equipadas contra geadas.
Assim, se você tem que escolher um tipo de fertilizante, escolha um fertilizante rico em nitrogênio para plantas com folhagem e opte por um fertilizante rico em potássio e fósforo para plantas com flores. Não esqueça que as plantas que cultivamos em nossas casas estão em vasos fechados e em substrato que não contém microrganismos ativos, nem chuva para lavar o excesso de sais minerais e regular tudo isso, como ocorre na natureza.
O resultado da adubação de inverno será de uma planta que não terá crescido muito, mas que ganhará forças para explodir de felicidade na primavera, e que terá um substrato rico em nutrientes e assim capaz de oferecer todos os elementos de que necessita para crescimento mais rápido, folhagem mais verde, floração abundante e mais longa.
*Valter Casarin, coordenador geral e científico da Nutrientes Para a Vida é graduado em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Jaboticabal, em 1986 e em Engenharia Florestal pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP, Piracicaba, em 1994. Concluiu o mestrado em Solos e Nutrição de Plantas, em 1994, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Recebeu o título de Doutor em Ciência do Solo pela École Supérieure Agronomique de Montpellier, França, em 1999. Atualmente é professor do Programa SolloAgro, ESALQ/USP e Sócio-Diretor da Fertilità Consultoria Agronômica.